quarta-feira, 27 de junho de 2012

REFLEXÃO DE STO. AGOSTINHO AOS MÚSICOS

Reflexão de Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja no seu  Sermão 34; a partir da trad. de CCL 41, 423-426, sobre a música em nossa vida. E vou além: não simplesmente da música em si, mas do louvor.

Somos convidados a cantar ao Senhor um cântico novo (Sl 149, 1). É o homem novo que conhece este cântico novo. O cântico é alegria e, se o analisarmos com mais atenção, também é amor. Aquele que sabe amar a vida nova conhece esse cântico novo. Mas também é necessário que estejamos conscientes do que é a vida nova por causa do cântico novo. Tudo isto faz arte do mesmo Reino: o homem novo, o cântico novo, a nova aliança. O homem novo cantará um cântico novo e fará parte da nova aliança. [...]

«Eis-me a cantar», dirás. Cantas, sim, tu cantas: estou a ouvir-te. Mas toma cuidado para que a tua vida não dê um testemunho contrário ao da tua língua. Cantai com a voz, cantai com o coração, cantai com a boca, cantai com a vossa conduta, «cantai ao senhor um cântico novo». Se vos questionais sobre o que deveis cantar Àquele que amais, e procurais louvores para Lhe cantar, «louvai-O na assembleia dos fiéis» (Sl 149, 1). O cântico de louvor é o próprio cantor. Quereis cantar os louvores de Deus? Sede o que cantais. Vós sois o Seu louvor, se viverdes bem. 
Cada frase deste sermão geraria e mereceria longas páginas de desdobramento, muito embora todo este contexto se encerre, ou melhor, se explique em uma frase do mesmo Santo Agostinho: "Queres saber no que creio, vem ouvir o que eu canto."
Mas gostaria de destacar duas frases neste momento: "O cântico de louvor é o próprio cantor." e "Vós sois o Seu louvor, se viverdes bem."
Como Agostinho é incisivo em suas palavras, como deve ser sempre as palavras e atitudes daqueles que abraçam a missão de anunciar Cristo, como sacode nossa consciência cristã e não simplesmente musical ou artística, nos mostrando o que tão bem escreveu nosso grande irmão músico Martin Valverde em seu livro: Filho antes que músico.
Santo Agostinho nos leva a esta dimensão de que música não é simplesmente um conjunto de notas e/ou melodia, mas sim uma ferramenta poderosa de conversão pessoal, que ministrar música não é só cantar ou tocar bem, mas sim levar o próprio coração e o das pessoas ao louvor a Deus. 
Quando Jesus nos exorta dizendo que "as pedras o louvarão", podemos entender que as pedras não cantam (lógico), mas louvarão ao Senhor.
E ainda nos ensina o salmista: "Tudo o que respira louve ao Senhor." Nem todos que respiram cantam e tocam.
Como farão para louvar o Senhor? Como entender isso?
Louvarão ao Senhor em sua essência, naquilo que é próprio de cada um, buscando e direcionando todo o seu ser, entendimento, faculdades, particularidades para Deus, para o seu louvor que é o reconhecimento da grandeza e amor de Deus por nós e nossa resposta a esse amor.
E dentro de todo este contexto nos alerta para o principal: O TESTEMUNHO.
Ás vezes pensamos que o que cantamos simplesmente é o que converte. Sútil engano. Poderemos estar no máximo emocionando as pessoas com uma mensagem "bonita", mas que se torna vaga e sem fundamento se por trás desta mensagem não for identificado CONCRETAMENTE em nossa vida o efeito da mesma.
Como cantar o amor de Deus se não amo meus irmãos?
Como ministrar a luta contra o pecado se não luto, mas simplesmente me revolvo na lama do pecado?
Como ministrar acolhimento, cantar cânticos de amizade e paz se sou indiferente com os irmãos?
Como cantar a verdade se a mentira não sai dos meus lábios e da minha vida?
Poderiam me perguntar: MAS TODOS NÓS NÃO ESTAMOS SUJEITOS A VIVER ISSO? QUEM NUNCA VIVEU E CONTINUA CANTANDO/TOCANDO?
Concordo com o questionamento, mas alerto que existe uma imensa diferença entre fraqueza, limitação e queda e uma opção livre por uma vida de pecado, muitas vezes camuflada no palco sob maquiagens, mascarada pelas luzes dos holofotes, abafada por dissonantes e agudos, escondida em meio a coreografias, mas nunca e nunca mesmo escondida do olhar justo e misericordioso de Jesus.
Se vivermos bem seremos louvor para Deus, como também diz Agostinho: quem canta BEM, reza duas vezes.
Não é só viver e cantar, mas é viver BEM e cantar BEM!
Caro irmão músico, a melhor canção é sua vida, os melhores acordes são suas atitudes, a melhor melodia é a retidão do seu coração, mesmo em meio as distorções do pecado e das quedas próprias de nossa humanidade. Ainda assim Deus nos afina por meio da confissão e nos fortalece através da Eucarístia para que possamos ser bons instrumentos nas mãos do Grande Artista e na partitura da vida possamos alcançar os acordes da eternidade.

Deus os abençoe!!!

Fabiano, Marta e Tobias
Nossa missão é evangelizar

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